Uma nova esperança para quem convive com a fibrilação atrial, a arritmia que multiplica o risco de AVC
- Equipe Cardiovent

- 15 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 15 de out.

A fibrilação atrial (ou FA) é uma arritmia em que os átrios (as câmaras superiores do coração) batem de forma irregular, com sinais elétricos “desordenados”. Isso atrapalha o fluxo do sangue, favorece estase sanguínea nas cavidades e risco de formação de trombos. atricure.com+1
Um dos perigos mais graves da FA é o AVC (acidente vascular cerebral). Estima-se que pacientes com FA têm risco de 5× maior de ter AVC comparado àqueles sem arritmia, especialmente se a FA não for reconhecida ou bem tratada. (Esse risco varia conforme outros fatores como idade, hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca, etc.)
Em muitos casos, o trombo (coágulo) se forma no apêndice atrial esquerdo, essa “bolsa” no coração que acumula sangue em situações de ritmo desorganizado. atricure.com+1
No Brasil, a técnica cirúrgica para tratar FA de forma definitiva ainda é pouco utilizada. Muitos pacientes ficam apenas no uso de remédios, anticoagulantes e ablação por cateter. Mas há uma alternativa com forte respaldo científico para os pacientes que estão com alguma cirurgia cardíaca marcada: a técnica Maze IV com exclusão do apêndice atrial esquerdo.
O que é o procedimento Maze IV + exclusão do apêndice atrial
Maze IV (ou Cox-Maze IV) é a evolução da técnica “Maze” original (iniciada por James Cox) para tratar FA por via cirúrgica. Basicamente, o cirurgião cria cicatrizes controladas no átrio (ou átrios) que funcionam como “barreiras elétricas”, interrompendo os “caminhos” pelos quais os impulsos elétricos anormais proliferam, e assim restaurando o ritmo sinusal normal (o batimento cardíaco regular).
Em paralelo, é feita a exclusão ou oclusão do apêndice atrial esquerdo, para reduzir fortemente o risco de formação de trombos nessa “bolsa” deixada no átrio esquerdo. Em muitos casos, mais de 95% dos coágulos associados à FA se originam no apêndice esquerdo. atricure.com+1
Evidência científica e nível de recomendação “1A”
A designação 1A refere-se ao nível mais alto de evidência na medicina baseada em diretrizes: significa que há ensaios clínicos randomizados e alta consistência entre os dados, confirmando benefício do procedimento para aquela condição.
No contexto da FA cirúrgica, a técnica Maze IV é considerada padrão-ouro (gold standard) para quando há indicação de tratamento cirúrgico, especialmente em cirurgias cardíacas concomitantes. Em diretrizes europeias e de sociedades de cirurgia cardiovascular, ela aparece como recomendação de alta classe para FA não paroxística quando o paciente já será submetido a cirurgia cardíaca. sbccv.org.br+2atricure.com+2
Um estudo importante é o ABLATE Trial, que avaliou a segurança e eficácia do Maze IV (usando sistema de radiofrequência bipolar da AtriCure). No seguimento de 6 meses, 76 % dos pacientes estavam livres da FA sem uso de antiarrítmicos. PubMed
Também, uma atualização brasileira de 2025 destaca o “estado da arte” do Maze IV associado à exclusão do apêndice na FA, com ênfase em sua indicação crescente. sbccv.org.br
Esses dados reforçam que não é só teoria. Os resultados são consistentes, com perfil de segurança aceitável, e com impacto clínico real.
Benefícios esperados para o paciente
Redução significativa do risco de AVC: ao eliminar ou “neutralizar” o apêndice atrial esquerdo, que é o local onde frequentemente se originam os coágulos, diminui-se a fonte de embolia cerebral.
Ritmo cardíaco mais “normal”: com o bloqueio dos circuitos elétricos anômalos, muitos pacientes recuperam o ritmo sinusal (báte-ritmo regular) ou têm redução grande da ocorrência de FA.
Menos dependência de anticoagulantes e antiarrítmicos: embora nem sempre seja possível interromper todos os medicamentos, muitos pacientes podem ter redução ou até não depender mais deles (dependendo do caso).
Melhora da qualidade de vida: menos palpitações, menor risco de insuficiência cardíaca ou dificuldade cardíaca induzida por FA persistente.
Uma vida com mais qualidade e menores riscos
Para muitas pessoas que vivem com FA persistente ou de longa duração, a perspectiva de um AVC, com sequelas graves, permanece como uma sombra constante. Mas com o Maze IV + exclusão do apêndice, abre-se uma rota de esperança:
reduzir drasticamente a chance de AVC
restaurar um ritmo mais saudável
potencialmente viver com menos medicações
recuperar bem-estar e segurança para o futuro
Cada caso exige avaliação individual por equipe especializada (cardiologista, eletrofisiologista, cirurgião cardíaco). Mas, no cenário global, a técnica já é recomendada em diretrizes e com respaldo de ensaios clínicos, e merece ser mais conhecida e adotada no Brasil.




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